Pausa pro café



Sem querer, acabei te procurando numa das rodas de conversa que se formaram. Busquei a tua voz no meio das outras e, entre as pessoas sentadas naqueles bancos gelados de concreto, quis te encontrar com as pernas cruzadas e as mãos entrelaçadas sobre os joelhos, rindo de algo ou contando alguma história.

Eu sabia o que estava acontecendo, mas quis fingir que não, por isso ainda esperava te ouvir chamando alguém para conversar e tomar um café. Fiquei alguns segundos ali parada, te olhando, abraçada em alguém e pensando que a gente não tem mesmo controle de nada.

É estranho pensar que eu, com 25 anos, já tenha passado por isso umas dez vezes e isso nunca ficar mais fácil. Nunca. Cheguei à conclusão que a gente só aprende a suportar o insuportável. Aprende a lidar com a dor, com a sensação de sufocamento, com o aperto no peito, com o desespero de não ver mais alguém que ama... e vai ficando mais forte.

É tipo um exercício físico: vamos treinando e aprendendo a carregar pesos cada vez maiores sem sofrer tanto, mas o peso continua lá... a carga é do mesmo tamanho (ou maior) do que era antes, só nos acostumamos a carregar sem sentir tanta dor. Aprendemos a encarar de outro jeito e pensar só nas coisas boas.

12 de junho seria um dia de festa uns anos atrás. Vó Olívia, que me fazia morangos do quintal com açúcar e me ensinou a subir no telhado para apanhar os chuchus que nasciam lá pra cima do paiol, nos receberia com beijos estalados e abracinhos apertados. Ela me diria que ainda tinha balas de anis na geladeira enquanto o vô Juca, sentado à beira do fogão à lenha, estaria mexendo no fogo com uma grimpa de pinheiro levantando um pouco de brasa debaixo da chapa. Talvez ele me chamasse para jogar pife, talvez comentasse algo da ida de fusca até a praça, talvez inventasse um nome qualquer e meio esquisito para um dos bezerros do sítio só para me deixar feliz (e para eu parar de perguntar o motivo do coitado não ter nome).

Mas não estão mais aqui nem a vó Olívia, nem o vô Juca, nem o tio Toni, tio Silvio ou tio Paulo... e agora nem você. Só sobrou o que a gente lembra.

Minha mãe hoje me contou uma história que eu não lembrava. Ela disse que não conseguia parar de pensar em você e ela na sacada, alguns anos atrás, naquele dia em que um ciclone atingiu Santa Catarina. Você apareceu aqui em casa carregando consigo a tia Irene, o Dani e um colchão, certo de que vocês estariam mais seguros aqui caso o tal furacão rodopiasse para esses lados. Agora eu só consigo pensar que a segurança que você sentia com a gente, nós sentíamos com você também.

E ísso. Eu vou sentir a tua falta. Não tenho muito o que dizer além de tudo que já disse, mas queria te pedir uma coisa: Quando você encontrar com eles para tomar aquele café e colocar em dia a conversa de tantos anos, dá um abraço e um beijo em cada um deles por mim?

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