Souvenir

Neste momento percebo que guardo lembranças como se fossem suvenirs de viagens passadas. Guardo numa caixa tentando não perder. Às vezes quero jogar alguma coisa fora, mas a caixa não tem fundo e as lembranças se misturam lá dentro. É difícil encontrar ou alcançar algumas coisas, outras são difíceis de esquecer.

Eu tenho medo de perder o suvenir da voz da vó Iolanda, ou da cor dos olhos da vó Olívia, ou da sensação da mão gelada do vô Hercílio no meu rosto, me reconhecendo pelos meus traços e voz. Eu tenho medo dessas coisas importantes se perderem no buraco negro da minha caixa sem fundo, mas por algum motivo ainda guardo suvenirs inúteis como do número do primeiro celular do meu pai, que ele comprou quando eu ainda era criança e que de tão grande e pesado precisava de uma bolsinha só pra ele.

Eu queria só guardar o souvenir da gargalhada da minha madrinha e da voz dela nos telefonemas de aniversário, que ela nunca esqueceu, mas guardo também a imagem de um monte de flores onde ninguém ria.

Eu queria perder só as coisas que não são coloridas, e lembrar sempre do vô Juca me ensinando a subir no telhado pra pegar um chuchu que nasceu lá pra cima do paiol. Queria guardar a água gelada do rio correndo e fazendo cócegas nos meus pés, a geada ardendo contra os vidros das janelas da casinha de madeira e o fogão à lenha esquentando as meias de lã, mas eu às vezes guardo aquelas sensações ruins do que acaba e não volta.

A gente não passa de um punhado de lembranças, né? Põe algumas coisas na mala e segue vivendo enquanto torce pra que as lembranças mais difíceis de carregar se percam no espaço.

A gente aprende a suportar o insuportável e a ser feliz com isso. Aprende a ser grato quando consegue tirar uma lição ou ensinamento de tudo, bom ou ruim, que um dia viveu.

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