Marcas

Foi embora do mesmo jeito que veio: em silêncio, devagar. Um dia eu acordei e vi que não havia sobrado mais nada. Te encontrei e você pareceu mais longe, um tanto fora de foco. Aquele frio da barriga se escondeu no bolso do meu casaco e o coração não correu pra boca por achar o peito um lugar mais confortável, por achar que não havia mais nada a dizer.

Eu tinha um monte de expectativas, achava que teria um fim rápido e dolorido como outrora, mas não. Foi uma dor parecida com aquela que você sente quando faz uma tatuagem: contínua e de baixa intensidade. Você sofre um pouco no começo, depois se sente apenas desconfortável, em seguida se acostuma com ela e quando vê, passou. A tatuagem está pronta, o amor foi embora. Ficou só uma marca que vai estar sempre ali.

Com o tempo você olha para o que ficou e quase não lembra mais da dor. Ela vai parecendo muito menor e você quer outra tatuagem, sem se importar se vai sofrer de novo ou não. Vai colecionando marcas, que algumas vezes doem mais, outras menos.

Deve ser esse clima de início de ano que me fez reciclar todos os sentimentos e jogar você na caixa do que não me serve mais. Terminei um ano com a surpresa de não querer mais você por perto e iniciei o novo com o milagre de uma nova vida. O milagre de ter a chance de me renovar e buscar desenhos mais bonitos para as próximas tatuagens que farei.

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